INTERVENÇÕES PARA REDUZIR A GORDURA VISCERAL

O tecido adiposo pode ser dividido em dois componentes. O primeiro é o subcutâneo, que se distribui abaixo da camada de pele, e o segundo é o interno, ou seja, a gordura visceral, que inclui a gordura omental, mesentérica e extraperitoneal6. Em comparação aos adipócitos do tecido periférico, os viscerais são maiores e apresentam alta lipólise, liberando na circulação grande quantidade de ácidos graxos livres (AGLs), que chegam com facilidade ao fígado e promovem resistência à insulina2
 
Evidências apontam ainda o potencial inflamatório do acúmulo de gordura visceral, pela acentuada infiltração de macrófagos que produzem citocinas como o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e a interleucina-6 (IL-6). Como consequência, instala-se uma inflamação crônica de baixo grau, relacionada ao aumento do risco de diabetes tipo 2 e de doenças cardiovasculares2. Existe, portanto, grande interesse em identificar maneiras de promover a redução de peso que resulte em perda preferencial de gordura visceral.
 
Chaston e Dixon (2008)2 realizaram uma revisão sistemática com inclusão de 61 estudos que investigaram os fatores associados à redução da gordura visceral em intervenções para perda de peso e observaram que esta ocorre quando a diminuição ponderal é modesta, sendo atenuada conforme a perda de peso aumenta. Pesquisas posteriores buscaram então promover perda de peso moderada, entre 5 e 10% do peso corporal inicial, como forma de reduzir a quantidade de tecido adiposo visceral.
 
Isto foi verificado por Goodpaster et al. (2010)4, que a partir de intervenção com dieta hipocalórica individualizada e atividade física durante um ano, obtiveram perda de 10% do peso inicial em adultos gravemente obesos, resultando em diminuição significativa da quantidade de tecido adiposo visceral. O efeito isolado da atividade física foi estudado por Friedenreich et al. (2011)3 em mulheres de 50 a 74 anos de idade. A intervenção também durou um ano e incluía 45 minutos de exercícios aeróbicos de intensidade moderada a vigorosa, cinco vezes por semana. A prática de atividade física foi associada com redução estatisticamente significante tanto da gordura visceral como subcutânea.
 
Borel et al. (2012)1 conduziram outro estudo de intervenção com combinação de dieta hipocalórica (déficit de 500 kcal/dia) e atividade física (160 minutos por semana) durante um ano, em homens com circunferência da cintura elevada (≥ 90 cm) e dislipidemia, que resultou em diminuição de 26% no volume de tecido adiposo visceral e aumento de 20% na capacidade cardiorrespiratória. Além disso, houve melhora no perfil lipídico, na homeostase da glicose e na secreção de mediadores inflamatórios. Os benefícios foram observados independentemente da perda de gordura subcutânea. 
 
Pesquisadores do mesmo grupo avaliaram a qualidade da dieta por meio de escore baseado na dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension). Eles encontraram que o grupo com melhor qualidade da dieta e maior nível de atividade física apresentou diminuição 28% maior na quantidade de tecido adiposo visceral do que o grupo fisicamente ativo, porém com dieta de pior qualidade. Este achado indica que, mais do que reduzir calorias, é importante garantir a adequação da dieta por meio de orientação e educação nutricional5.
 
Pelas evidências atuais, pode-se concluir que o estabelecimento de um balanço energético negativo promove a diminuição do depósito de gordura visceral. O aprofundamento do estudo de fatores que otimizam a perda preferencial deste tipo de tecido adiposo poderá embasar recomendações com importante contribuição para o controle da epidemia de doenças crônicas não transmissíveis6.
 
Referências:
 1) Borel AL, Nazare JA, Smith J, et al. Visceral and not subcutaneous abdominal adiposity reduction drives the benefits of a 1-year lifestyle modification program. Obesity (Silver Spring) 2012; 20(6): 1223-1233.
 2) Chaston TB, Dixon JB. Factors associated with percent change in visceral versus subcutaneous abdominal fat during weight loss: findings from a systematic review. Int J Obes (Lond) 2008; 32(4): 619-628.
 3) Friedenreich CM, Woolcott CG, McTiernan A, et al. Adiposity changes after a 1-year aerobic exercise intervention among postmenopausal women: a randomized controlled trial. Int J Obes (Lond) 2011; 35(3): 427-435.
4) Goodpaster BH, Delany JP, Otto AD, et al. Effects of diet and physical activity interventions on weight loss and cardiometabolic risk factors in severely obese adults: a randomized trial. JAMA 2010; 304(16): 1795-1802.
 5) Nazare JA, Smith J, Borel AL, et al. Changes in both global diet quality and physical activity level synergistically reduce visceral adiposity in men with features of metabolic syndrome. J Nutr 2013; 143(7): 1074-1083.
 6) Tchernof A, Després JP. Pathophysiology of human visceral obesity: an update. Physiol Rev 2013; 93(1): 359-404.
 

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